Qual roupa usar nas reuniões?

20/06/2012 12:15

 

 

 
Existe um princípio no Antigo Testamento que mostra que homem deve se vestir como homem e mulher como mulher. Embora seja um mandamento, chamei aqui de "princípio" porque a passagem não especifica o que seja roupa de homem e o que seja roupa de mulher.
 
 
Deu 22:5 Não haverá traje de homem na mulher, e nem vestirá o homem roupa de mulher; porque, qualquer que faz isto, abominação é ao SENHOR teu Deus.
 
Considerando que se eu hoje saísse às ruas de uma cidade brasileira vestido como um homem do Antigo Testamento seria considerado trajando roupa feminina (vestido longo), entendo que a passagem está falando de se travestir, ou seja, do homem ou da mulher que quer parecer do sexo oposto. Creio que a questão ali estaria mais na intenção do que na roupa.
 
Nas diferentes culturas existem diferentes maneiras de se vestir como homem ou como mulher. Por exemplo, você poderia encontrar irmãos na Índia indo às reuniões com aqueles camisolões indianos que aqui poderiam ser confundidos como roupa feminina. Na Bolívia em algumas assembleias nas montanhas as irmãs cobrem a cabeça, mas não com véus ou lenços como fazem aqui, e sim com chapéus. Lá o chapéu coco é uma tradição típica dos povos indígenas.
 
No mundo ocidental a coisa ficou um pouco confusa nos últimos tempos, já que tornou-se comum mulheres usarem calças compridas na vida diária, embora os homens não usem saias, como alguns fazem na Escócia. Se a passagem do Antigo Testamento fosse seguida à risca, as mulheres não deveriam usar calças compridas em situação nenhuma, e não apenas nas reuniões da assembleia.
 
Não existe na doutrina dos apóstolos um impedimento para uma mulher ir às reuniões de calça comprida, mesmo porque muitas irmãs usam calças compridas em outras ocasiões. Mas ainda existe em nossa cultura resquícios de que roupa feminina é saia ou vestido, e não calças compridas. Os banheiros públicos estão aí para indicar isso e sabemos imediatamente qual é qual só pelo desenho da placa: os ícones do homem e da mulher são diferenciados pelo tipo de roupa que vestem, calças ou saia.
 
Não sei se nos tribunais ainda é assim, mas não faz muito tempo eu sabia que as mulheres precisavam vestir saia ou vestido para ter uma audiência com o juiz ou quando atuavam em algumas reuniões do congresso ou senado. Talvez hoje esteja diferente. Recentemente vi uma notícia de um flanelinha no Recife que aluga calças compridas para homens em frente ao fórum, onde é proibido entrar de bermudas.
 
Creio que a roupa que usamos ou deixamos de usar pode ser também uma questão de respeito para com os que poderiam se escandalizar se fizerem diferente. Outro dia um irmão que congrega numa denominação perguntou o que eu achava, pois o pastor fez uma advertência a ele por estar frequentando os cultos de bermudas. Dei razão ao pastor e disse a ele que estava errando em insistir nas bermudas, com base em Rom 14:13-32:
 
"Portanto não nos julguemos mais uns aos outros; antes o seja o vosso propósito não pôr tropeço ou escândalo ao vosso irmão... Bom é não comer carne, nem beber vinho, NEM FAZER QUALQUER OUTRA COISA em que teu irmão tropece... Não vos torneis causa de tropeço nem a judeus, nem a gregos, nem a igreja de Deus"
 
Biblicamente não existe uma roupa certa ou errada para ir às reuniões, contanto que você se vista com decência dentro dos padrões culturais de onde habita. Por exemplo, em algumas assembleias mais tradicionais do Canadá, onde há muitos irmãos idosos, eu causaria desconforto se fosse de tênis, camiseta e jeans, então se vou a um lugar assim procuro me adaptar para não escandalizar. Na Inglaterra (e também na América do Norte) há irmãos que não vão à ceia do Senhor sem terno e gravata.
 
Aqui eu passo perfeitamente despercebido da maioria, mesmo que vá com uma camiseta com uma estampa de fotos, frases ou marcas. Mas uma vez uma irmã norte-americana que nos visitava reparou na camiseta de um jovem na reunião, que trazia uma frase em inglês que significava uma baixaria. O jovem havia comprado a camiseta porque achou bonita, sem saber o significado da frase que levava no peito.
 
Portanto, como pode ver, a questão não é tanto de saia ou de calça, mas de respeito uns para com os outros. Em 1992 eu estava na Escócia, e antes de chegarmos à casa de uma irmã em Edimburgh, o irmão norte-americano com quem eu viajava pediu que eu guardasse a câmera, pois aquela irmã se escandalizaria caso eu quisesse tirar uma foto, como já tinha feito em outras casas que visitamos. Muitos irmãos no início do século consideravam fotografias coisas contrárias ao mandamento de não se fazer imagens e pode ser que você ainda encontre algum mais idoso que ainda pense assim.
 
Quando você esteve numa reunião aqui percebeu que as irmãs estavam todas de saia ou vestido. Você poderia chamar de "tradição" a questão das mulheres estarem vestidas assim na reunião, e realmente pode ser colocado dessa maneira. Uma tradição não é exatamente uma coisa ruim se ela não negar a Palavra de Deus. As tradições denunciadas na Palavra são aquelas que invalidam a própria Palavra, como a dos fariseus ou a "vã maneira de viver de vossos pais".
 
Mat_15:6 E assim invalidastes, pela vossa tradição, o mandamento de Deus.
 
Veja que interessante que, por um lado, Paulo fala das tradições judaicas que guardava na sua incredulidade, que pelo contexto deviam incluir a rejeição dos cristãos, e que ele cumpria direitinho ao persegui-los. Por outro lado menciona tradições que os Tessalonicenses faziam bem em guardar:
 
Gál_1:14 E na minha nação excedia em judaísmo a muitos da minha idade, sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais.
 
2Ts_2:15 Então, irmãos, estai firmes e retende as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa.
 
Em outra ocasião o apóstolo alerta para o perigo de alguns que queriam enredar os discípulos em tradições dos homens, mas depois nós o vemos alertando os Tessalonicenses que aqueles que não andavam segundo a tradição recebida dos apóstolos estaria andando desordenadamente:
 
Col_2:8 Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo;
 
2Ts_3:6-7 Mandamo-vos, porém, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo o irmão que anda desordenadamente, e não segundo a tradição que de nós recebeu. Porque vós mesmos sabeis como convém imitar-nos, pois que não nos houvemos desordenadamente entre vós.
 
Neste caso de Tessalonicenses o contexto indica que o correto seria que cada o irmão trabalhasse de forma honesta para garantir o seu próprio sustento, enquanto na passagem de Colossenses o ponto é a filosofia dos homens.
 
Eu entendo que essas "tradições" que o apóstolo manda guardar provavelmente fazem parte da doutrina dos apóstolos, e não necessariamente sejam apenas costumes. Existe um problema quando transformamos costumes em doutrina dos apóstolos, pois teríamos dificuldade em discernir qual "costume" pode e qual não pode.
 
Quando vamos a um lugar e detectamos tradições ou costumes que em nada contrariam a Palavra de Deus, devemos simplesmente acatar isso em amor e respeito pelos irmãos que agem assim. Eu, por exemplo, sou péssimo nisso, porque sempre gosto de testar os limites. Mas o melhor mesmo é sempre aguardar uma resposta do Senhor para entendermos melhor as coisas.
 
Dou um exemplo: eu nunca tive muito claro para mim por que não poderíamos colocar uma câmera nas reuniões de assembleia e conectá-la à Internet para que irmãos de localidades onde não há uma assembleia reunida pudessem participar, ao menos para ouvir o ministério.
 
No meu pensamento eu achava que, se gravamos as reuniões em áudio, por que não também em vídeo? Isso foi até eu receber a cópia do email de um irmão de Fortaleza respondendo a uma irmã interessada em congregar e que perguntou a mesma coisa. Ele escreveu:
 
"Ao fazer uso de vídeos e teleconferências correríamos o risco de, ao nos reunirmos para adorar ao Senhor, passarmos a ter em mente que estaríamos apresentar algo a alguém. Então, deixaríamos de ter Cristo como centro e passaríamos a ter a apresentação do vídeo aos outros como o foco central da reunião de adoração".
 
Ficou mais claro para mim, pois as reuniões da assembleia têm um caráter solene que não pode ser repetido em fotos ou vídeos. O Senhor prometeu estar no meio físico, e não virtual, de dois ou três reunidos em Seu nome, e fazer a imagem daquilo extrapolar o espaço do "cenáculo mobilado" (Lc 22:12) não deve ter sido a intenção do Senhor, quando quis ter um encontro de intimidade com os Seus.
 
No entanto eu já não vejo problema quando se trata de pregar o evangelho ou mesmo apresentar um estudo da Palavra, porque aí é uma atividade individual de um para muitos, e o ministrante não está ocupado com a presença do Senhor no meio, como é o caso na reunião da assembleia, mas sim com a mensagem que pretende transmitir. Quando estamos congregados em nome do Senhor é o Espírito quem nos congrega para Cristo. Não há um homem na frente dirigindo as reuniões. Estamos ali para adorar a Deus (ceia do Senhor), para orar a Deus (reunião de oração) ou para aprender de Deus (reunião de ministério da Palavra).
 
Quando algum irmão prega o evangelho, é ele quem decide qual hino cantar, faz a oração, escolhe a passagem etc. e seu foco é atingir as mentes e corações dos incrédulos que foram convidados para o evento. O caráter é totalmente diferente, daí eu não ter problemas em fazer, por exemplo, o "Evangelho em 3 minutos".
 
Nós vamos ter de conviver com esta (mulheres de saia) e outras tradições ou costumes, enquanto percebermos que isso é relevante ou que pode escandalizar procedermos de modo diferente. Veja que há tradições ou costumes que seguimos e nem sequer nos damos conta. Que um exemplo? Nos idiomas originais da Bíblia não havia maiúsculas e minúsculas, só maiúsculas. Hoje adotamos a convenção de escrever "Deus" ou "DEUS" mas nunca "deus", a não ser para falar de divindades pagãs.
 
Usamos pronomes pessoais começando com maiúsculas quando se referem ao Senhor (olha a maiúscula aí), quando escrevemos frases como "Senhor, a Tua vontade... o Teu amor etc.". No entanto, no texto bíblico isso não é feito, como você vê em "que deu o seu Filho... todo aquele que nele crê...", onde não se usa "Seu" ou "nEle" como às vezes fazemos ao redigir um texto. Os editores de Bíblias obviamente não usam os pronomes começando por maiúsculas por uma questão estética. O texto ficaria muito carregado e confuso.
 
Mais costumes? No português a maioria dos cristãos adota a forma antiga ou portuguesa na hora de orar, como "eu Vos peço... o Teu amor" (santistas, catarinenses e gaúchos fazem assim até na conversa coloquial), talvez até por influência portuguesa ou, no caso dos evangélicos, do protestantismo inglês. O problema é que, se em inglês é mais solene se dirigir a Deus na forma arcaica, como "Thou art Lord" ("Tu és Senhor"), em português não seria a mesma coisa. Por incrível que possa parecer, em nossa língua o pronome "Você" é mais solene em sua origem do que "Tu", já que em português "tu" há mais de cem anos era a forma popular, enquanto "você" vinha de "vossa mercê", a forma de tratar a realeza, portanto, mais solene, nobre e educada. 
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